sexta-feira, 21 de novembro de 2008

- Z -

Z é o filme mais importante da carreira do cineasta Constantin Costa-Gavras. Depois que um político da esquerda grega é assassinado enquanto se prepara para fazer um discurso contra o governo, um investigador é encarregado do caso. Quanto mais ele se aprofunda, mais descobre até onde os políticos de direita estão dispostos a ir para encobrir o assassinato. Um eletrizante suspense inspirado na política grega numa época conturbada. O filme revive o assassinato e a investigação numa tentativa de demonstrar como o mecanismo da corrupção facista pode se esconder atrás da máscara da lei e da ordem.
“Um dos filmes mais polêmicos do século XX”. “Um filme que abalou a opinião pública mundial, baseado em Fatos Reais!”. “ Foi proibido no Brasil durante 15 anos!”

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

VENTOS DA LIBERDADE


Na Irlanda, em 1920, trabalhadores do interior do país se organizam para enfrentar os esquadrões britânicos que chegam para sufocar o movimento pela independência. Cansado de testemunhar tanta brutalidade, Damien, um jovem estudante de medicina, abandona tudo para juntar-se ao irmão Teddy, que há tempos já aderiu à luta armada. Quando as táticas não-convencionais dos irlandeses começam a abalar a supremacia dos soldados britânicos, o governo se vê forçado a negociar e os dois lados discutem um acordo de paz. Nesse momento, na Irlanda, aqueles que estavam unidos pela independência se dividem entre os que são a favor e os que são contra o acordo, deixando os irmãos em lados opostos de uma nova guerra, agora interna.
Mais uma obra prima do diretor Ken Loach!!!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

MICHAEL COLLINS - O Preço da Liberdade


Esta é a biografia romanceada de Michael Collins que, nos anos 20, foi uma figura central na luta da Irlanda contra o domínio da Coroa Inglesa. Ciente de que estaria realizando um drama político sobre uma personalidade pouco conhecida fora de seu país de origem, a Irlanda, o cineasta Neil Jordan decidiu trabalhar a história quase como uma aventura, um épico com romance, luta, violência e idéias. Conseguiu um resultado muito positivo, prendendo a atenção do espectador com uma história tensa e um completo domínio de cena, trabalhando como nunca com cenas grandiosas e inúmeros figurantes.
Durante quase 700 anos, a Inglaterra dominou a Irlanda com mão de ferro. Em 1916, um violento combate entre os rebeldes irlandeses e a bem treinada força militar inglesa resultou em uma vitória esmagadora do governo, eliminado os últimos focos de resistência. Entre os revolucionários que sobreviveram ao massacre encontrava-se Michael Collins, um homem corajoso, disposto a continuar lutando por seu país. Mas como combater um exército tão poderoso? Utilizando táticas incomuns de combate. Atacando quando menos se espera. Eliminando os inimigos de forma traiçoeira e sem piedade.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

QUEIMADA


Uma ilha do Caribe na metade do século XIX. A natureza fez um paraíso aqui; o homem o transformou em inferno. Escravos de vastas plantações de açúcar dos portugueses estão prontos para transformar sua miséria em revolta – e os britânicos estão prontos para despejar a última gota d’água. Eles enviam o agente William Walker (Marlon Brando) em uma missão tripla e desonesta: convencer os escravos a se rebelarem, tomar o comércio de açúcar para a Inglaterra... e restabelecer o regime de escravidão. Os temas do colonialismo e da insurreição são explorados no épico, QUEIMADA! Tem o brilho de um diretor genial. A genialidade também é evidente na interpretação complexa e inteligente que Marlon Brando faz de um homem que é, ao mesmo tempo, um cavalheiro e um patife, revolucionário e colonialista.
O filme desnuda a estratégia da dominação inglesa no século 19, apresentando elementos que iluminam uma reflexão acerca da dominação, em qualquer País em qualquer tempo e, talvez por isso este filme de 1969 tenha sido proibido pelo Regime Militar.
Uma obra prima do diretor italiano Gillo Pontecorvo!!!

Filme Escolhido

O filme escolhido para a "sessão vale a pena ver de novo" foi "Queimada". Estavam concorrendo, além deste, os filmes "Eles não usam Black Tie" e "Os Panteras Negras"

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Comentários sobre "Uma Onda no Ar"


Uma onda no ar
Brasil 2002. Direção: Helvécio Ratton, produção: Simone Magalhães Matos, argumento e roteiro: Jorge Durán e Helvécio Ratton.
por Alessandro Piolli
Uma onda no ar é a história da criação e do desenvolvimento da Rádio Favela de Belo Horizonte - "a voz livre do morro", como a chamavam seus idealizadores. A rádio pirata entrava no ar todos os dias no horário do programa estatal A Voz do Brasil. A tática e o amplo alcance dos transmissores da rádio, que mandavam suas ondas bem além da favela, incomodavam as autoridades. Jorge, um dos idealizadores da Rádio, que é negro e morador da favela, acaba sendo perseguido e preso pela polícia. Atrás das grades, é questionado por outro detento sobre como foi criação da Rádio... Começa uma história de luta, resistência cultural e política contra o racismo e a exclusão social, em que a população da favela encontra uma importante arma: a comunicação.
As músicas escolhidas para o filme mostram uma atenção especial da rádio em valorizar a diversidade da cultura afro na América e sua força como mecanismo de protesto. Quem assiste o filme pode apreciar desde o rap nacional dos Racionais MCs, passando pelo break, o samba, o blues, o funk, a música da gente dos morros, até o berimbau da capoeira. As descontinuidades temporais de algumas cenas são marcadas por músicas que também tem o papel de estabelecer conexão entre diferentes universos tratados no filme: a política, a polícia, a favela, a escola, a rádio e o crime.
A Rádio desempenha outros importantes papéis como, por exemplo, o de promover a comunicação dentro e fora da favela. As vozes de protesto aparecem de maneira bem direta, pedindo mais verbas para geração de empregos, melhorias nas escolas e menos dinheiro para armar a polícia. Essa programação, "afinada" com a população excluída, aparece nas falas dos locutores como expressão do descontentamento sobre a condição da população pobre. A utilização desse meio de comunicação para se promover mudanças positivas rendeu um prêmio das Nações Unidas à Rádio Favela, pelo seu papel educativo e de prevenção ao uso e tráfico de drogas.O racismo é mostrado em diferentes espaços. Um dos episódios mais marcantes de discriminação racial acontece na escola. Jorge tinha uma bolsa para estudar num colégio da elite de Belo Horizonte, pois sua mãe era a faxineira da escola. Durante a apresentação de um seminário sobre a libertação dos escravos, os alunos afirmam que a Lei Áurea teria resolvido de forma definitiva a questão do negro na história do país. Ele discorda, dizendo que Lei Áurea não representou efetivamente a liberdade para o negro, questionando a situação dos descendentes dos escravos no atual contexto.
O desenrolar desse episódio, ao mesmo tempo em que despertou raiva, estimulou o rapaz a refletir sobre sua luta. O racismo, mascarado pela idéia de que no Brasil não existe discriminação racial e a condição de exclusão social, da qual ainda partilha boa parte da população negra, foram alguns dos principais motivos que estimularam a iniciativa da criação da rádio.

(...)


UMA ONDA NO AR


Jorge, Brau, Roque e Zequiel são quatro jovens amigos que vivem em uma favela de Belo Horizonte e sonham em criar uma rádio que seja a voz do local onde vivem. Eles conseguem transformar seu sonho em realidade ao criar a Rádio Favela, que logo conquista os moradores locais por dar voz aos excluídos, mesmo operando na ilegalidade.
O sucesso da rádio comunitária repercute fora da favela, trazendo também inimigos para o grupo, que acaba enfrentando a repressão policial para a extinção da rádio.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

UN POQUITO DE TANTA VERDAD




No verão de 2006 explode um levante popular massivo no estado de Oaxaca no sul do México. Alguns o compararam à Comuna de Paris. Porém, o que realmente fez historia em Oaxaca foi as novas formas de organização social que apareceram, as novas formas de tomadas de decisão, a negação de todas as instuições estatais e também o uso dos meios de comunicação.
Um Poquito de Tanta Verdad mostra o fenômeno sem precedentes que teve lugar quando dezenas de milhares de professores, donas de casa, comunidades indígenas, trabalhadores da saúde, camponeses e estudantes se apoderaram de 14 emissoras de radio e de uma emissora de televisão, utilizando-as para organizar, movimentar e finalmente defender sua luta por justiça social, cultural e econômica.

sábado, 9 de agosto de 2008

CRONICAMENTE INVIÁVEL



Tendo como pano de fundo trechos das histórias de vida de seis personagens, o filme mostra a árdua tarefa de sobreviver física e mentalmente em meio ao caos da sociedade brasileira; dificuldade esta que atinge a todos independentemente da posição social ou da postura assumida. As situações abordadas têm como fio condutor um restaurante num bairro rico de São Paulo, cujo dono é um homem de meia idade, refinado e acostumado com as boas maneiras, mas ao mesmo tempo irônico e pungente. Um escritor que realiza um passeio pelo país, buscando compreender os problemas de dominação e opressão social. Um garçom que se destaca por sua descendência européia, aspecto físico, boa instrução e insubordinação. Uma rica carioca preocupada em manter o mínimo de humanidade na relação com as pessoas de classe mais baixa. Seu marido acredita na racionalidade como forma de tirar proveito da bagunça típica do Brasil. E a gerente do restaurante, uma pessoa cativante, com um passado encoberto pelas várias histórias que costuma contar para os amigos e os refinados clientes do restaurante.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

NOVIDADE NESTE SEMESTRE

Neste semestre incluiremos a sessão "vale a pena ver de novo". Reprisaremos um filme de nossa primeira temporada: "Os Panteras Negras", "Eles Não Usam Black Tie" ou "Queimada".
Nas tres primeiras sessões pegaremos os votos dos participantes para a escolha de qual dos filmes querem que seja reprisado no dia 27/09.
Depois, a idéia é que no próximo semestre seja escolhido um filme da segunda temporada e assim respectivamente.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Algumas sinopses sobre "A Classe Operária Vai Ao Paraíso"

Adorado por seus superiores por ser um trabalhador extremamente dedicado e odiado pelo mesmo motivo por seus colegas de trabalho, Lulu vive entregue aos sonhos de consumo da classe média, alienado em meio aos movimentos de protesto de sua classe, até que um acontecimento põe em xeque suas opiniões.
http://melhoresfilmes.com.br/filmes/a-classe-operaria-vai-ao-paraiso

Lulu é um operário metalúrgico, que perde um dedo em acidente de trabalho e é envolvido em movimento de protesto. Descobre assim a vida sindical. Ele divide-se entre as tentações da sociedade de consumo e as convocações da esquerda tradicional, numa radiografia do impasse ideológico de muitos trabalhadores. Ganhou o prêmio David di Donatello 1972 de melhor filme, além da Palma de Ouro no Festival de Cannes 1972. http://www2.uol.com.br/mostra/30/p_exib_filme_355.shtml

O processo de conscientização política do operário Lulú é o eixo do filme, que de forma dialética, consegue fazer aflorar as contradições da condição do trabalhador sem cair na armadilha do filme panfletário. Ao mesmo tempo que Lulú se politiza é influenciado pela sociedade de consumo . Suas referências no processo de politização são três: o discurso extremista dos estudantes, a postura moderada e pragmática dos sindicalistas e, sobretudo, seu velho companheiro de trabalho, Militina, que devido ao trabalho da fábrica acabou enlouquecendo, indo parar em um manicômio.A alienação do trabalho no capitalismo é exposta de maneira brilhante na conversa de Lulú e Militina, onde este, em sua ‘loucura’, lembra-se do questionamento que fazia sobre a utilidade das peças que produziam. Ainda Militina é a principal referência na utopia que dá nome ao filme: o muro que precisa ser derrubado, dando acesso ao paraíso para todos os operários.A discussão de Lulú com o líder estudantil após ter sido demitido expõe a dificuldade em aproximar o discurso de esquerda da vida cotidiana dos trabalhadores: o coletivo se sobrepõe ao individual em uma sociedade onde o individualismo está arraigado.O filme só entrou em cartaz no Brasil no início dos anos 80, quando ocorria um afrouxamento da censura da ditadura militar, justamente no momento que renascia o movimento operário brasileiro com as greves do metalúrgicos do ABC. http://patuska.multiply.com/reviews/item/344

segunda-feira, 16 de junho de 2008

JODOROWSKY, O EXTREMO





Não é fácil suportar os filmes de Alejandro Jodorowsky. O cineasta chileno tem uma frase célebre em que diz que a maioria dos cineastas faz filmes com os olhos, ao passo que ele os faz com seus testículos. Por mais exagerada que a frase possa soar, é extremamente coerente com um certo sentido da obra de Jodorowsky, de um cinema em busca de seu lado mais instintivo de criação (ainda que ele os faça sem dúvida com os olhos, dada sua capacidade de criar imagens impressionantes em muitos sentidos). Seus filmes trabalham uma evolução interessante que está lá desde o começo de sua carreira, quando lida diretamente com parceiros mais próximos (como Fernando Arrabal), e vai, filme a filme passando a ser cada vez mais único e transgressivo.

Por maiores que sejam as qualidades de Fando y Lis, seu primeiro longa, não é difícil desmerecê-lo como mais um filme decalcado de Buñuel. Muitos elementos que viriam a se solidificar como parte da obra jodorowskiana já estavam presentes, como o caminhar por um espaço indefinido, a idéia da narrativa ser uma espécie de jornada. Mas ainda é claro que trata-se de um cinema muito identificado com um movimento, o que pode ser uma camisa de força quando o cineasta é tão livre como Jodorowsky. Figura cheia de misticismos, o autor de El Topo sempre possuiu uma visão forte e particular sobre os relacionamentos, a família, e principalmente sobre religião. Seu fascínio pelas relações passionais entre amantes e familiares percorre toda sua obra. O amor de Fando e Lis é apenas uma amostra de algo que viria a ser cada vez mais explorado mais a frente. Em El topo vemos a essência do sentimento de Jodorowsky logo em sua abertura, sensacional, quando vemos o pistoleiro – interpretado pelo próprio cineasta – que cavalga em seu cavalo negro ao lado do filho nu, interpretado por seu próprio filho, e vem informá-lo de que já havia completado sete anos, e era agora um homem. Junto dos dizeres, uma ordem: enterrar seu primeiro brinquedo e um retrato de sua mãe.

No próprio El Topo ainda existem outras imagens de relações passionais de maior interesse. Em meio a sua longa jornada, o pistoleiro El Topo irá em certo momento carregar consigo uma mulher que chamará de Mara. Depois de algum tempo juntos, ela lhe pede que prove seu amor enfrentando os quatro mestres do deserto, um desafio que ele aceita. A viagem pelo deserto, que começa como uma provação de amor, se desliga por completo deste sentido, tornando-se uma jornada para que ele se assuma de vez como uma figura divina. Já Mara passa a se sentir enciumada por uma pistoleira que passa a acompanhá-los no caminho. Esse sentimento inicial, no entanto, rapidamente se transforma em paixão. Ao fim deste ato da jornada de nosso herói, Mara finalmente escolherá entre os dois, metralhando El Topo.

A relação entre pais e filhos, que recebe algum destaque em El Topo, retorna com impacto em Santa Sangre, um de seus últimos trabalhos. Na obra mais abertamente cigana de Jodorowsky, um jovem que enlouquecera ao ver o pai decepar os dois braços da mãe e depois se matar, foge do hospício para se tornar os braços de sua mãe no circo. Mais uma vez dois de seus filhos entram em cena interpretando os protagonistas de cada um dos dois atos. Boa parte de Santa Sangre é basicamente sobre a jornada deste jovem para se desprender da imagem de sua mãe que não lhe permitia enfim estar livre. Trata-se de outro filme cheio de imagens fortes, com um conceito bem definido, mas onde o surrealismo instintivo já parece um pouco mais acomodado. A imaginação e capacidade de construção de Jodorowsky segue intacta, mas seu lado mais agressivo é deixado um pouco de lado. O filme também marca por ser uma obra mais definida, onde é possível traçar onde Jodorowsky queria chegar de forma direta. Uma das características mais fortes de seu cinema sempre foi o das imagens estarem num estado mais instintivo e indefinido. Em Santa Sangre mesmo as mais fortes cenas, como as com a cobra, aparecem de forma um pouco mais acomodada. O que não lhes tira toda a força, de forma alguma.

O aspecto religioso é algo presente em todas as obras de Jodorowsky, que sempre mostrou-se interessado neste mosaico de crenças que forma o mundo. Das mais variadas, entre deuses e seres divinos, o imaginário religioso povoa seus filmes, sendo talvez a questão principal em El Topo. Mas é em The Holy Mountain que se encontra seu filme mais diretamente aberto ao assunto. Sem dúvida o mais surrealista e porra-louca dos filmes do cineasta, Holy Mountain mostra sem pudores as mais variadas formas de religião e crenças, apontando para o vazio que se constrói em torno de tantas delas. O menos narrativo de seus filmes segue uma figura com a aparência de Cristo, que caminha por cidade em que os mais variados eventos sensacionalistas estão ocorrendo, num mundo dominado pelo fascismo. Em certo momento, após ser alcoolizado, ele é jogado em meio à um zilhão de bonecos com a imagem de Cristo. Após ter um acesso de ira, ele tenta carregar uma destas imagens para uma igreja, mas é expulso dela. A figura acabará se encontrando com um alquimista, conhecerá a história de outras figuras divinas que vieram de outros planetas e se juntaram numa jornada em busca da montanha sagrada que guarda o segredo da imortalidade. Mas isso tudo ocorre na última meia-hora de um filme de duas horas. Todos os seres divinos possuem uma imagem como as de Cristo, e antes de partirem em sua jornada eles precisam queimá-las. Ainda há pelo menos uma seqüência inacreditável, quando Jodorowsky encena com lagartos e sapos uma espécie de reino, com direito inclusive a figurino para os anfíbios. A cena termina com uma explosão e sapos fugindo de um vulcão de sangue. Feito após o sucesso de El Topo, Jodorowsky aproveitou a oportunidade de somar financiamento e liberdade, realizando um filme único em todos os sentidos. É muito difícil definir qualquer coisa em Holy Mountain, é uma coleção de imagens sinistras, arquitetadas com um apuro rigoroso. Pode não ser o melhor trabalho do cineasta, mas é de longe o que mais apresenta a essência dele, da sua busca pelo limite. É o supra-sumo do cinema extremo.

Mas voltemos à sua obra-prima, El Topo. Produzido como um faroeste spaghetti, o filme lida com diversas situações do gênero ao seu modo. O filme acompanha a jornada dessa figura divina que o cineasta encarna em cena, que cavalga por cidades destruídas, duela ao estouro de um balão, se auto proclama Deus quando aplica sua justiça à um coronel fascista: a castração. Em certo momento, é possível até mesmo acreditar que ele realmente o seja, não só pela forma destemida como enfrenta os fascistas, mas como quando transforma a água salgada em doce para que sua amante beba. Mas aos poucos Jodorowsky vai desfazendo essa imagem, e vamos percebendo uma figura perdida, em busca de algo. Esta é a jornada de El Topo pelo deserto surrealista de Jodorowsky. Sua busca pelos duelos com os quatro mestres do deserto que começam como uma prova de amor a sua amante evoluem rapidamente para uma busca dele próprio, talvez uma forma de descobrir e aceitar sua condição de ser divino. O primeiro mestre que enfrenta é o mais fascinante dos quatro, um homem cego que não teme as balas e por isso não pode ser atingido. Elas batem em seu corpo e caem no chão. O mestre é assessorado por um duo formado por um homem sem braços e outro sem pernas, unidos por um laço. Pessoas deformadas e decapitadas são figuras constantes na obra de Jodorowsky, que era fascinava por estas figuras e sua imagem. Os duelos sempre fogem da obviedade, acontecendo de formas bem diferentes umas das outras. O quarto e último mestre é um velho que trocou sua arma por uma rede de catar borboletas. Os tiros ricocheteiam na rede e retornam na direção de El Topo. Incapaz de vencê-lo, ele escuta do velho que não mais teme a morte e prova isso ao se matar.

A jornada de El Topo não termina aí, nem quando é baleado por sua amante que o troca por uma pistoleira. Atingindo um êxtase incomum, ele é abandonado desacordado por elas e é salvo por um grupo de seres abandonados pela sociedade. Anos se passam e El Topo finalmente acorda de seu longo exílio. Ele já não parece o mesmo, inclusive fisicamente. Ele descobre que aquelas pessoas deformadas eram abandonadas dentro de um túnel por serem filhos de incestos, e assume como sua missão divina libertá-los. Para isso sobe com uma mulher anã até a cidade e a descobre devastada por mais figuras fascistas, que adotam um símbolo que em muito se assemelha ao da maçonaria. Neste terceiro ato, vemos alguns dos momentos mais brilhantes da obra de Jodorowsky, como quando filma cenas de comédia ao estilo cinema mudo, nos números que a dupla encena em busca de dinheiro. É quando fica evidente o controle e o talento deste cineasta, capaz de se reinventar a cada seqüência. O final explosivo é fascinante e único, fechando um ciclo iniciado na primeira cena do filme, e abrindo caminho para o mundo que ali seguiria com aquele cavalo, montado pelo filho de El Topo, a anã e seu novo filho.

O aspecto estético de El Topo, que busca sempre uma imagem clássica dos faroestes italianos, sem os piores tiques daquele gênero, pode enganar sobre esta faceta de Jodorowsky. Ainda que sejam inúmeras as imagens de muito poder visual no filme, é até possível crer que não se está diante da obra de um esteta. Já nas primeiras imagens de Holy Mountain essa idéia se dissipa, com o cineasta mostrando um rigor especial na construção dos quadros, suas cores e texturas. Santa Sangre também retoma este cuidado visual mais apurado, parecendo em alguns momentos uma pintura surrealista em movimento. Artista multifacetado, palhaço de circo, dramaturgo, autor de inúmeros livros e graphic novels, vidente profissional: o homem que usava os olhos para filmar com os testículos.


Guilherme Martins


http://www.contracampo.com.br/82/festjodorowsky.htm

segunda-feira, 9 de junho de 2008


Quanto vale ou é por quilo?
Direção: Sérgio Bianchi (2005)

Por Marta Kanashiro

"O que vale é ter liberdade para consumir, essa é a verdadeira funcionalidade da democracia". Proferida pelo ator Lázaro Ramos – em "Quanto vale ou é por quilo?", filme de Sérgio Bianchi – a frase traz uma entre as muitas questões apresentadas pelo cineasta paranaense, que são fundamentais para aqueles que desejam refletir mais seriamente sobre desigualdade, direitos e capitalismo na atualidade.
Assim como em "Cronicamente inviável", Bianchi apresenta a realidade de forma tão crua e chocante que novamente a crítica o tem rotulado como niilista ou catastrofista, rótulos que tanto limitam a visão de realidades de fato existentes, quanto revelam o desejo de continuar mantendo-as recalcadas. Bianchi parece nos dizer que é impossível ficar diante ou atento a essa realidade de disparidades sem o choque ou o constrangimento, e que talvez essas sensações sejam de alguma forma produtivas para tirar algumas pessoas de um mundo mágico, recheado de slogans em prol da solidariedade e da responsabilidade social.
Livre adaptação do conto "Pai contra mãe" , de Machado de Assis, o filme traz à tona a permanência na atualidade de nosso passado escravista, deixando clara a impossibilidade de olhar o presente sem levar esse passado em conta, assim como as persistentes desigualdades econômicas, sociais e de direitos no país. Na medida em que o conto machadiano é adaptado para a atualidade – nas figuras de Candinho, Clara, tia Mônica e Arminda – Bianchi mostra o elo imprescindível com a História para uma visão crítica da atualidade.
No entanto, para aqueles que ainda não leram o conto de Machado de Assis, o elo fica realmente claro quando Bianchi utiliza como recurso os paralelos com as crônicas de Nireu Cavalcanti, do final do século XVIII, extraídas do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Os cortes entre a adaptação do conto e esses documentos do Arquivo Nacional produzem quase que choques sucessivos no espectador, na medida em que igualam a violência, a noção de que pessoas podiam ser propriedade de outras, ou a lógica do lucro do sistema de escravidão no Brasil, ao que hoje é produzido com relação aos excluídos e marginalizados em nossa sociedade.
Mas se por um lado o filme afirma que há reminiscências que nos são constitutivas, também abarca sua incorporação e complexificação nos dias atuais: a miséria ou a prisão como economicamente rentáveis e geradoras de emprego, a solidariedade como empresa ou até mesmo a denúncia como um negócio. No atual jogo "democrático" e de "participação" da sociedade civil em prol de demandas não atendidas pelo Estado, as ongs - ou o terceiro setor, como se convencionou chamar - aparecem no filme funcionando como empresa, incorporando seu discurso típico e objetivando, enfim, o lucro. Responsabilidade social ou solidariedade são exaltadas e mobilizadas como marketing dessa nova indústria que gerencia a miséria e os miseráveis. A crítica ácida de Bianchi recai, portanto, sobre aquilo que muitos têm entendido como solução ou alternativa para os dilemas inerentes ao capitalismo – as ONGs.
Sem freios, tal acidez pode voltar-se inclusive sobre o próprio filme que, no limite, ao tematizar o uso econômico da miséria, faz da denúncia seu negócio. Mas essa possível autofagia encontra como limite o choque do espectador, a proposta de retirá-lo daquele mundo mágico, da inércia confortante dos que criticam e apresentam uma nova proposta ou solução ao final. Sem solução, sem proposta, Bianchi termina o filme com dois finais possíveis, dando a entender que mesmo que não sejam apenas aquelas as opções, é o espectador que dará novos desfechos para a nossa História.
Ao final da sessão, na sala 4 do Espaço Unibanco, na capital paulista, a platéia parecia não conseguir se erguer das poltronas, o silêncio era fúnebre, de fato alguém tinha retirado o nosso chão. Precisávamos reconstruí-lo para poder nos erguer. Uma dupla de senhoras tentou resolver a questão da forma mais fácil dizendo: "O filme é pura promoção do conflito". Pois é, ficou tudo tão evidente que para alguns é preferível imaginar que o conflito ainda não está posto no cotidiano brasileiro.


terça-feira, 29 de abril de 2008

A batalha do Chile III - O poder popular

"À margem dos grandes acontecimentos narrados nos episódios I e II acontecem também outros fenômenos originais, às vezes efêmeros, incompletos, contados nesta terceira parte. Numerosos setores da população e, em particular, as camadas populares que apóiam Allende organizam e põem em marcha uma série de ações coletivas: armazéns comunitários, cadeias industriais, comitês camponeses etc. com a intenção de neutralizar o caos e superar a crise. Essas instituições, em sua maioria espontâneas, representam um 'estado' dentro do Estado".
Patricio Guzmán

terça-feira, 15 de abril de 2008

A batalha do Chile II - Sinopse

A batalha do Chile II - O Golpe de Estado
"Entre março e setembro de 1973 a esquerda e a direita se enfrentam nas ruas, nas fábricas, nos tribunais, nas universidades, no congresso e nos meios de comunicação. A situação se torna insustentável. Os Estados Unidos financiam a greve dos caminhoneiros e fomentam o caos social. Allende tenta, sem sucesso, um acordo com as forças da Democracia Cristã. As próprias contradições da esquerda aumentam a crise. Os militares começam a conspirar em Valparaíso. Um amplo setor da classe média apóia o boicote e a guerra civil. Em 11 de setembro Pinochet bombardeia o palácio do governo".
Patricio Guzmán

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A Batalha do Chile I - Sinopse

"Salvador Allende põe em marcha um programa de profundas transformações sociais e políticas. Desde o primeiro dia a direita organiza contra ele uma série de greves enquanto a Casa Branca o asfixia economicamente. Apesar do boicote, em março de 1973 os partidos que apóiam Allende obtêm mais de 40% dos votos. A direita compreende que os mecanismos legais já não servem. De agora em diante sua estratégia será o golpe de estado. A batalha do Chile é um documento que mostra, passo a passo, esses acontecimentos que comoveram o mundo".
Patricio Guzmán

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A Batalha do Chile - Comentários



Trata-se de uma obra-prima do cineasta chileno Patrício Guzmán que pode, inclusive, ser utilizado como o currículo de um curso de formação política. Temas como reformismo, revolução, socialismo, a dominação burguesa, o poder popular, o papel da mídia e muitos outros surgem enquanto assistimos ao filme. São quase cinco horas de duração, divididas em três partes: "A Insurreição da Burguesia", "O Golpe de Estado" e "O Poder Popular".
A primeira cena do documentário mostra o Palácio de La Moneda sendo bombardeado em 11 de setembro de 1973. É o próprio símbolo da dominação burguesa. A classe dominante não hesita em destruir suas próprias obras para manter seus privilégios. Mostra que se a esquerda chilena pretendia trilhar a “via pacífica” para o socialismo, a burguesia não vacilou em responder com extrema violência. Paz para ela significa sossego para continuar explorando. Já para seus inimigos é a paz dos cemitérios.
Mas, um dos vários aspectos destacados pela obra de Guzmán é o papel da mídia em todo o processo de sabotagem e derrubada do governo Allende. A maior parte da grande mídia era controlada pela oposição de direita. A mais perigosa era a emissora de TV, Canal 13. Era uma espécie de Globo do Chile da época. Era tão identificada com os interesses conservadores que Guzmán usava um crachá falso da emissora para entrevistar o público conservador. Com isso, conseguia captar o clima de revolta da classe média e da burguesia em relação às medidas populares do governo Allende.
FONTE: http://www.piratininga.org.br/2006/86-batalha-do-chile.html

Guzman vivia na Europa quando chegaram as notícias da subida ao poder da Unidade Popular, aliança de partidos de esquerda que elegeu o presidente Salvador Allende no Chile do fim dos anos 60. Entusiasmado, o cineasta voltou ao seu país e começou a gastar o que podia de rolos e mais rolos de filme. Foi além dos temas espetaculares, filmando desde assembléias de fábricas, passando por trabalhadores do campo, moradores de bairros construindo um abastecimento alternativo, até militantes de direita. É um registro e uma análise bastante completa do que foi a caminhada chilena pela via democrática ao socialismo, abordando temas difíceis como as nacionalizações, o apoio ambíguo da presidência ao processo de construção do "poder popular" que se dava com as ocupações de fábricas e latifûndios e a construção da participação direta através de assembléias locais e regionais, e as contradições entre este poder popular e um Estado que acabou paralisado pela maioria conservadora do Congresso e as ações de sabotagem apoiadas pela CIA e pelas elites. Com o golpe em 1973, Guzman se refugiou em Cuba, onde terminou de editar a terceira parte do documentário apenas em 1979. Foram praticamente 10 anos de trabalho.
FONTE: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/09/360314.shtml

sexta-feira, 28 de março de 2008

Sinopse e Crítica


Sinopse
Numa pequena fazenda do interior da Holanda, Antonia passa seu último dia de vida. Deitada em uma cama, recorda o dia em que, logo após o término da 2ª Guerra Mundial, voltou ao vilarejo de sua infância, acompanhada de sua filha adolescente, Danielle.
Em flashbacks, o filme recua até aquele dia quando, tendo herdado a pequena fazenda, ela decide recomeçar sua vida, juntamente com a filha. Ela encontra velhos amigos e, com sua autoridade e generosidade, dá abrigo a uma jovem retardada que fora estuprada pelo irmão.
Quando um fazendeiro viúvo, Bas, lhe propõe que seja a nova mãe de seus cinco filhos, ela não aceita a proposta, mas os dois se tornam grandes amigos por muitos anos, até que ela decide tornar-se sua amante, não sua esposa.
Danielle pretende ser uma pintora. Anos mais tarde, quando decide ter um filho, mantendo-se solteira, ela e Antonia vão à cidade em busca de um homem que possa ser o pai da criança. Elas o encontram na pessoa do irmão da amiga Letta.
Thérèse, filha de Danielle, demonstra ser uma criança especial, um prodígio em matemática. Para atender às necessidades específicas de educação de sua filha, Danielle recorre aos conhecimentos de Kromme Vinger, um filósofo recluso, e de Lara, uma professora por quem ela imediatamente se apaixona. Lara passa, então, a viver também na fazenda.
Quando o irmão de Deedee estupra Thérèse, Antonia toma uma posição corajosa contra ele. Embora fique furiosa com a situação, não se deixa levar por seus sentimentos de violência. Anos mais tarde, Thérèse casa-se e tem uma filha, Sarah.
À medida que o tempo passa, Antonia continua adicionando novos membros à sua extensa família, incluindo um padre que deixou o hábito e a amiga Letta. Assim, ao chegar a hora de sua morte, ela está rodeada por sua família e amigos. Sua morte se dá com dignidade, serenidade e beleza.
....
Críticas
"A Excêntrica Família de Antonia" é um ótimo filme que fala do alto valor da amizade, da independência, da intuição e da solidariedade. Realizado pela cineasta holandesa, Marleen Gorris, que também assina o roteiro, apresenta momentos de violência e desespero, mas também outros de grande beleza.
A direção de Marleen Gorris é consistentemente boa. A produção é esmerada, com locações cuidadosamente escolhidas e muito bem captadas pela fotografia de Willy Stassen.
No elenco, o grande destaque é a cativante atuação de Willeke van Ammelrooy, no papel-título. A ela, somam-se às de Els Dottermans e Veerle van Overloop.
FONTE: http://www.65anosdecinema.pro.br/A_excentrica_familia_de_Antonia.htm

terça-feira, 25 de março de 2008

NOVO FILME ... depoimentos de uma blogueira


NOVO FILME ... Depoimentos de uma blogueira

Resumo: A Excêntrica Família de AntôniaDefinido como uma celebração da vida e da morte, A Excêntrica Família de Antonia, vai além ao contar a história de uma encantadora geração de mulheres. Comandada por Antonia, a saga familiar atravessa três gerações, falando de força, de beleza e de escolhas que desafiam o tempo. Passear com Antonia por suas paisagens modificadas a qualquer momento pela força da imaginação e conhecer seus curiosos personagens, o filósofo pessimista, a netinha superdotada, a filha lésbica, a vó louca, o padre herege, a amiga que adora procriar, a vizinha que sofre abusos sexuais e os muitos amigos que são acolhidos por sua generosidade, vai nos fazer lembrar do quanto ainda se pode fazer pelo mundo, pela vida e por tudo que existe em nós e precisa ser modificado, simplesmente celebrando a felicidade!
Este filme foi um dos grandes "culpados" para o meu despertar filosófico. Lembro-me muito bem quando o assisti pela primeira vez; tinha apenas 12/13 anos na epóca. Lembro mais ainda de um grande personagem no filme que me marcou muito, justamente o filósofo do filme conhecido como "Dedo Torto" e a sua "Carta" . Fiquei tão impressionada com o conteúdo da Carta que me lembro até hoje. E aqui transcrevo:
"(...)É absurso crer que a dor constate que nos aflinge seja apenas momentânea . Pelo contrário: a desgraça é a regra e não a exceção. A quem culpar por nossa existência? A explosão solar que nos deus a vida? Eu me acuso já que não creio em Deus ou reencarnação, se acreditasse poderia me iludir de que a vida nos promete uma divina sobremesa após uma indigesta refeição. Não quero mais pensar, acima de tudo não quero pensar".

http://horizontesdosaber.blogspot.com/2007/05/excntrica-famlia-de-antnia.html

domingo, 9 de março de 2008

E D U K A T O R S (Alemanha, 2004, de Hans Weingartner)

por Eduardo Carli de Moraes

Esse é um daqueles mistérios da alma humana que é difícil de entender: por que diabos um ricaço nunca está realmente satisfeito com a fortuna que tem? Por que precisa sempre adicionar mais um zero a seu saldo bancário, um carro à sua garagem (que digo eu!? a seu GALPÃO!), um iate a sua praia particular...? O que faz com que ele nunca consiga se satisfazer com o que já possui e tenha que partir sempre em busca de mais e mais e mais?

É realmente de indignar, de revoltar, de deixar louco de raiva, a atitude da maioria dos bilionários desse planeta: eles insistem em cultivar suas fortunas pessoais, e entesourar seus capitais, e fazê-los render indefinidamente, enquanto que em todos os cantos desse mundo se ouvem os gemidos das multidões que agonizam de fome, de frio, de humilhação... E, afinal, fala sério: que diferença faz ter um bilhão de dólares ou trinta, cinquenta, cem bilhões? Um bilhão de dólares é grana mais do que suficiente para que se compre tudo o que se possa desejar. E ainda assim, para terem o orgulhozinho escroto de um saldo bancário com dezenas de zeros à direita, para gozarem da celebridade de serem incluídos em alguma listinha enojante dos mais ricos do mundo de alguma revista de negócios, eles, os milionários, se agarram a suas fortuninhas... Tristes humanos, tão contaminados por seu egoísmo, tão pouco capazes de se sensibilizar com os destinos de outros homens, tão apegados a suas posses, que se esquecem completamente que existem coisas chamadas caridade, solidariedade, compaixão, generosidade...

Não que sejamos, todos nós, muito diferentes... Mas o que revolta no milionário é que ele poderia muito bem doar uma enorme parcela de sua renda para outros mais necessitados sem que isso fizesse muita falta para ele. Exemplo: um homem que possui 50 bilhões de dólares e que doasse 49 bilhões para alguma entidade de combate à fome no Quarto Mundo sairia realmente prejudicado por isso? Com o bilhão que manteve no bolso, pode ainda viver a vida a viajar pelos lugares mais belos do mundo, se hospedando nos mais belos hotéis, comendo as mais caras das comidas, andando nos mais belos carros... E ainda assim eles permanecem comprando o supérfluo para si ao invés de doar o necessário a outros em situações agoniantes. Quem já não teve vontade de punir os milionários por seu comportamento revoltantemente egoísta? Quem já não teve fantasias sangrentas sobre imolações e torturas contra esses porcos capitalistas?...


Pensamentos como esses foram trazidos à tona pelo filme alemão EDUKATORS, segundo longa-metragem do jovem cineasta Hans Weingartner. É mais um filme nessa leva que vem crescendo ultimamente: a de filmes subversivos que pretendem criticar o atual estado de desenvolvimento do capitalismo e do neoliberalismo (e uma de suas principais consequências: a péssima distribuição de riquezas no planeta). Só ficando nos exemplos do cinemão mainstream, tivemos grandes obras nesse estilo com o Clube da Luta (que, para quem sabe ver bem, é uma espertíssima crítica ao vazio existencial na sociedade de consumo) e os documentários do Michael Moore...

EDUKATORS é o nome de uma organização subversiva de protesto criativo contra o capitalismo. Jan (Daniel Bruhl, que protagonizou também o ótimo Adeus Lênin!) e Peter (Stipe Erceg), dois companheiros de longa data, armam um novo método de "terrorismo poético" ou de "protesto não-violento contra o sistema capitalista": gastam suas madrugadas a invadir mansões de bilhardários (que estão ausentes de suas casas) para realizar uma espécie de "trote". Uma vez lá dentro, não roubam nem destroem nada, como se quisessem provar que não tem intenções baixas de apossamento indevido de bens alheios nem de holocaustos raivosos de riquezas. Somente mudam de lugar os móveis e objetos de decoração, arranjando-os de forma meio caótica, meio brincalhona, e depois deixam um recado para os invadidos que diz "Seus dias de fartura estão contados!" ou "Você tem mais dinheiro do que deveria ter!". E assinam com o codinome EDUKATORS.

A intenção é clara: os Edukators não são uma organização criminosa à la Robin Hood que quer roubar os bens dos ricões e distribui-los para as massas, mas sim um coletivo que se propõe a acordar a consciência dos milionários para a desigualdade social. É questionável se esses métodos funcionam. Primeiro, pode-se objetar que entrar na casa de uma meia dúzia de ricões nada vai resolver num nível nacional, muito menos global, já que, mesmo que esses ricos invadidos procurem realizar mais "atos caridosos e humanitários" para provarem a seus Educadores que "melhoraram", seriam somente atos isolados que não resolveriam muito para o quadro geral. A essa objeção os Edukators já tem resposta pronta: eles são somente os precursores, aqueles que fornecem o modelo, o exemplo; outros seguidores do credo virão na sequência e darão continuidade ao "projeto". É o modo de pensar Luther Blissett: a gente começa a realizar certos atos e os "assina" com um certo nome, convidando outros jovens rebeldes a adotá-lo também, e então Edukators ou Luther Blissett deixa de ser o nome de um certo grupo específico, localizado num espaço geográfico muito bem delimitado, e se torna algo de muito especial: um MITO, desterritorializado e múltiplo, muito mais difícil de ser derrotado pelo poder por não ter nenhuma liderança central. Mas há aqui uma diferença fundamental: Edukators não é o nome de um movimento contra-cultural realmente existente como o Luther Blissett, mas nem precisa sê-lo para servir como modelo. O cinema serve aqui como uma notável ferramenta de propagandear um certo modo de subversão aos seus espectadores mais ousados. Quem duvida que exista uma parcela do público que sai do cinema a fim de imitar a atitude dos Edukators? E como não pensar que o diretor tenha tido essa intenção inspiradora?

Mas também se pode objetar outra coisa: não será muito mais plausível que os ricões, ao invés de passarem a magicamente se dedicar a atos de filantropia, se decidam muito mais a um fechamento ainda mais paranóico em seus mundinhos estanques? O que leva os Edukators a crer que ter sua casa invadida por um grupo rebelde fará com que o milionário passe a agir de modo mais altruísta? É muito mais plausível que instale um sistema de alarme mais eficiente, que contrate seguranças mais fortemente armados para fazer a vigilância de sua propriedade, que mande blindar todos os seus automóveis com a mais impenetrável das carapaças... Se bem que em nenhum momento se explicita realmente que a intenção é que os capitalistas passem a distribuir suas riquezas: se trata muito mais de assustá-los, de fazê-los temer novas invasões, de torturá-los um pouco com o medo... “Queremos que eles se sintam inseguros mesmo com toda a segurança que pensam ter. Queremos que fiquem apavorados.”, diz Jan (cito de cabeça, ou seja, com pouca exatidão...). Mas de que serve instigar a paranóia alheia, se isso só serviria para que eles ficassem ainda mais receosos de perder suas posses e se esforçassem para resguardá-las ainda melhor?


A coisa se complica quando a namorada de Peter, a loirinha Jule (Julia Jentsch), incapaz de pagar o aluguel de seu apartamento, se muda para a casa do companheiro. Dois homens e uma mulher dividindo a mesma moradia... já dá pra suspeitar aonde isso vai dar. Num fim-de-semana em que o “dono oficial” da garota estava em viagem, Jan e Jule se engraçam. A garota conta para o amigo a história de sua desgraça: um tempo atrás, dirigindo seu carrinho velho por uma estrada, havia batido na Mercedes de um grande empresário, causando a destruição completa do veículo. Resultado: adquiriu uma dívida de 100.000 euros, que paga gota a gota trabalhando como garçonete num restaurante para grã-finos. Segundo seus cálculos, vai precisar de OITO ANOS de trabalho só para pagar o carro destruído do desgraçado. Como não podia deixar de ser, a garota adquiriu um certo ódio contra todos os milionários e suas frescuras idiotas (chega até mesmo a riscar os BMWs e Ferraris em estacionamentos), e vai encontrar em Jan um aliado em seu ódio. Ambos acham revoltante que June tenha que trabalhar por anos e anos e anos para sustentar o estilo de vida do milionário, e ainda mais por saberem que um carro, para uma pessoa dessas, é uma mixaria. Paralelamente à atração que nasce entre os dois, nasce também o interesse empolgado de Jule pela ação dos Edukators. Mas logo se vê que é a vingança o que busca a mocinha.

Quando invadem a casa do milionário Hardenberg, aquele que obriga June a trabalhar “escravamente” para pagar sua dívida, são surpreendidoss pelo mesmo e obrigados a levá-lo como refém de um sequestro improvisado. Algumas das melhores cenas do filme vão se passar no cativeiro, quando os três jovens idealistas e revolucionários duelam verbalmente com o empresário bilionário. O que está em questão, claro, é a indiferença dos homens mais ricos do mundo em relação aos destinos humanos no terceiro e quarto mundo. Hardenberg está certo de que tem o direito de usufruir da fortuna que, diz ele, foi conquistada por seu trabalho duro... Ao que respondem: quem trabalha de verdade são as pessoas esfomeadas e esfarrapadas da América do Sul, da Ásia e da África, por um salário de miséria, e o senhor somente se apropria desse trabalho para multiplicar o capital... Hardenberg, por sua vez, diz que não tem culpa por não ter nascido na Ásia miserável, que “não criou as regras do jogo e somente o joga”, ao que respondem: “o culpado não é só quem criou a arma, mas também quem puxa o gatilho”. E assim vamos acompanhando alguns dos diálogos mais espertos e instigantes que o cinema político já apresentou aos seus espectadores em toda sua história.

O filme certamente não é simplista ou excessivamente maniqueísta: de forma alguma reduz os personagens a expressões do bem absoluto aqui, do mal absoluto acolá. Os três revolucionários, por exemplo, são descritos com uma verossimilhança impressionate. Não há por aqui nenhuma insistência em mostrá-los como heróis totalmente imaculados e sem nenhum traço de interesse pessoal, ganância ou mesquinharias egóicas. Exemplos: Peter não resiste à tentação de surrupiar um Rolex da casa de um ricão invadido, mesmo sabendo que os Edukators não são uma organização que aprove o furto. Jule, por sua vez, sabe que o sequestro do milionário não é verdadeiramente um ato “altruísta”: é muito mais motivado por um rancoroso desejo de vingança do que por uma real preocupação com as outras pessoas que são fodidas pela péssima distribuição de riquezas no planeta. E, claro, a fidelidade ao ideal revolucionário acaba por ser atrapalhada pelo ciúme e pela briga interna dentro do triângulo amoroso.


O empresário sequestrado, por sua vez, não é descrito caricatamente, como se esperaria de um filme de esquerda mais fanático, como uma pessoa irremediavelmente gananciosa, egoísta, conservadora, insensível... Não: trata-se de um ex-militante de esquerda da geração 1968, que viveu em repúblicas estudantis, e que depois não pôde resistir às tentações do mercado e do luxo bruguês. Um homem que manifesta seu “respeito” ao idealismo juvenil e que, como se diz, talvez nem seja “má pessoa”. Um sequestrado que acaba até por simpatizar com os seus sequestradores (o que os psicanalistas chamam, se não me engano, de Síndrome de Estocolmo) e que parece estar curtindo suas férias longe de sua vidinha tradicional em sua mansão, fazendo poucos esforços para fugir. Tudo bem que acaba por instigar a guerra entre os jovens e que acaba por tomar uma decisão que nos deixa com raiva no final do filme (calma que eu não vou contar nada).

EDUKATORS, mesmo que esteja claramente do lado dos revolucionários e sempre procure nos fazer simpatizar com eles e sua luta, não sacrifica a verdade do retrato e não cai nunca na caricatura. Trata-se de fazer cinema com as pessoas como são, não com estereótipos ou ideais, e foi isso que Hans Weingartner parece ter entendido muito bem. Saiu-se com um filme gostoso de assistir, que instiga identificação com os personagens e que inspira a imitá-los, que junta dramas humanos pessoais com críticas sociais gerais, enfim, um cinema jovem, inteligente, tocante, excitante. O mundo precisa de mais filmes como este.


Este texto foi pego do FANZINEKAOS : http://paginas.terra.com.br/arte/zinekaos/


sábado, 8 de março de 2008

LENHA NA FOGUEIRA .. EDUKATORS DARÁ O QUE FALAR



Jan e Peter são amigos que dividem um apartamento e fundaram o movimento "The Edukators", que protesta contra a concentração de renda. Os dois invadem casas de membros da alta sociedade, bagunçam móveis e objetos, mas nunca roubam nada nem machucam ninguém. O objetivo é dar uma lição nos ricos.Por não ter dinheiro para morar sozinha, Jule, a namorada de Peter, se muda para o apartamento dos amigos.



Os problemas financeiros de Jule começaram porque a jovem sofreu um acidente de carro e, desde então, é obrigada a pagar uma indenização mensal a Hardenberg, um bem sucedido homem de negócios.Enquanto Peter está fazendo uma viagem, Jan e Jule começam a se envolver. Jan revela que é um edukator e Jule propõe uma ação na casa de Hardenberg. Eles esquecem o celular e quando voltam para pegar o telefone, são surpreendidos por Hardenberg, que reconhece Jule.Jan e Jule ligam para pedir ajuda a Peter, que descobre o romance secreto. Os três acabam seqüestrando Hardenberg e a partir daí os jovens radicais se aproximam do rico burguês e se desenrola uma história que mostra um encontro de gerações. Todos começam a questionar seus valores.

ALGUMAS SINOPSES...

A batalha do Chile I - a insurreição da burguesia
"Salvador Allende põe em marcha um programa de profundas transformações sociais e políticas. Desde o primeiro dia a direita organiza contra ele uma série de greves enquanto a Casa Branca o asfixia economicamente. Apesar do boicote, em março de 1973 os partidos que apóiam Allende obtêm mais de 40% dos votos. A direita compreende que os mecanismos legais já não servem. De agora em diante sua estratégia será o golpe de estado. A batalha do Chile é um documento que mostra, passo a passo, esses acontecimentos que comoveram o mundo".
Patricio Guzmán

A batalha do Chile II - o golpe de estado
"Entre março e setembro de 1973 a esquerda e a direita se enfrentam nas ruas, nas fábricas, nos tribunais, nas universidades, no congresso e nos meios de comunicação. A situação se torna insustentável. Os Estados Unidos financiam a greve dos caminhoneiros e fomentam o caos social. Allende tenta, sem sucesso, um acordo com as forças da Democracia Cristã. As próprias contradições da esquerda aumentam a crise. Os militares começam a conspirar em Valparaíso. Um amplo setor da classe média apóia o boicote e a guerra civil. Em 11 de setembro Pinochet bombardeia o palácio do governo".
Patricio Guzmán

A batalha do Chile III - O poder popular
"À margem dos grandes acontecimentos narrados nos episódios I e II acontecem também outros fenômenos originais, às vezes efêmeros, incompletos, contados nesta terceira parte. Numerosos setores da população e, em particular, as camadas populares que apóiam Allende organizam e põem em marcha uma série de ações coletivas: armazéns comunitários, cadeias industriais, comitês camponeses etc. com a intenção de neutralizar o caos e superar a crise. Essas instituições, em sua maioria espontâneas, representam um 'estado' dentro do Estado".
Patricio Guzmán

domingo, 24 de fevereiro de 2008